quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O peixinho atrás do carro



Era Domingo. Fechou a porta de casa. No chaveiro, “Jesus te ama”. Chegou à igreja no carro que tinha um peixinho na traseira. Trazia a Bíblia debaixo do braço. Cumprimentou o recepcionista: “A Paz, varão valoroso, vaso de honra na casa de Jeová”.

A religião impõe comportamentos, rótulos, princípios morais e éticos, modos de pensar e fazer. Muitas vezes simplesmente imitamos o que fazem as outras pessoas que compartilham a mesma fé que nós. Falamos como elas, nos portamos como elas. Não há nada de errado em ter um peixinho atrás do carro. Não mesmo. O que está errado é achar que ter um peixinho atrás do carro te faz um cristão, ou te faz diferente daquelas pessoas que não são.

Quando Paulo disse “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo”, ele não estava dizendo “me imitem em tudo”. Ele estava dizendo: ”Olha, eu imito a Cristo, imitem-no também. Me imitem no fato de eu imitar a Jesus, sou um imitador de Cristo, seja um também!”

Ser cristão não é se enquadrar em uma série de rótulos, se vestir de determinada forma, falar jargões da boca pra fora sem saber o que essas palavras significam. Ser Cristão é amar quando ninguém ama, é amparar quando todos condenam, é ter palavras de esperança quando todos pensam que não há mais jeito. Ser cristão é ser imitador de Cristo. É resplandecer os valores e idéias que Cristo nos transmite.

Fim do culto. Ele pegou sua Bíblia, entrou no carro que tinha o peixinho atrás. Chegou em casa, pegou o chaveiro com os dizeres “Jesus te ama”. Falava como um “cristão”. Se vestia como “cristão”. Ia à igreja, como um “cristão”. Mas será que era realmente um?



“PORQUE O REINO DE DEUS NÃO VEM COM APARÊNCIA EXTERNA”- Lucas 17:20

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A contracultura cristã



"É impossível um cristão sincero não simpatizar com manifestações contraculturais" Ricardo Almeida


Um movimento de contracultura propõe novas maneiras de pensar, sentir e agir, tenta erigir um universo com regras e valores próprios. A contracultura desmistifica os pensamentos, métodos, valores e condutas hegemônicas, socialmente estabelecidas, e constrói pensamentos, métodos, valores e condutas alternativas.
Por incrível que pareça, o cristão deveria endossar mais as práticas contraculturais do que as socialmente constituídas. Deveria se guiar menos por construções mentais humanas, modos de proceder, práticas religiosas ou modos de operação que são produtos de valores humanos. Em um mundo onde o individualismo é estimulado, onde o ego das pessoas precisa ser massageado, onde a ignorância de muitos é bom negócio para poucos, onde o “ter” vale mais do que o “ser”, onde só há justiça quando há conveniência, e onde o conformismo é regra e imposição, o cristianismo deveria ser a alternativa para quem está cansado de tudo isso. Palavras de John Stott:

“De um certo modo, os cristãos consideram esta busca de uma cultura alternativa um dos mais promissores, e até mesmo excitantes, sinais dos tempos. Pois reconhecemos nisso a atividade do Espírito, o qual, antes de confortar, perturba; e sabemos a quem a busca deles conduzirá, se quiserem encontrar a resposta. Na verdade, é significativo que Theodore Roszak, encontrando dificuldade para expressar a realidade que a juventude contemporânea procura, alienada como está pela insistência dos cientistas quanto à'objetividade', sente-se obrigado a recorrer às palavras de Jesus: 'Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?'
Mas, ao lado da esperança que esta disposição de protesto e busca inspira aos cristãos, há também (ou deveria haver) um sentimento de vergonha. Pois, se a juventude de hoje está à procura das coisas certas(significado, paz, amor, realidade), ela as tem procurado nos lugares errados. O primeiro lugar onde deveriam procurar é um lugar que normalmente ignoram, isto é, a Igreja. Pois, com demasiada freqüência, o que vêem nas igrejas não é a contracultura, mas o conformismo; não uma nova sociedade que concretiza seus ideais, mas uma versão da velha sociedade a que renunciaram; não a vida, mas a morte. Prontamente endossariam o que Jesus disse de uma igreja do primeiro século: 'Tens nome de que vives, e estás morto'


Há muito tempo atrás, disse também um certo Apóstolo Paulo:

“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento..” Romanos 12:2

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quando a comodidade se torna um incômodo


"Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo" - C.S.Lewis

Domingo, ele foi à igreja. Escutou os avisos, louvou, ouviu a palavra, confraternizou e foi para casa. Na semana seguinte, domingo, ele foi à igreja, escutou os avisos, adorou, ouviu a palavra, confraternizou e foi para a casa. Domingo de novo, ele foi à igreja, escutou avisos, adorou, ouviu a palavra, confraternizou e voltou para casa.

Mas no fundo, aquele jovem estava incomodado. Sentia que deveria fazer mais, muito mais. Com o tempo, notara que o ser cristão estava menos entre os avisos e a confraternização, e mais no trajeto entre sua casa e a igreja.

Percebera que ir à igreja faz parte e é necessário, porém, não pode jamais ser o tudo. Caiu em si e percebeu que se tornara um mero religioso, mecanizado, automatizado e robotizado.

Lembrou-se que o Evangelho retratado na Bíblia muitas vezes nada tinha a ver com o Evangelho que vivia. Lembrou-se de Nicodemos, conhecedor exímio das práticas religiosas, mas incapaz de entender a Cristo. Imediatamente identificou-se.

Constatou que seria cômodo continuar indo à igreja, escutar os avisos, louvar, ouvir a palavra, confraternizar e ir para a casa. Mas essa comodidade acabou transformando-se no incômodo que corroía sua mente e seu coração. A comodidade acabou gerando o sentimento oposto: acabou transformando-se em incômodo.

Sentiu-se incomodado por não ter se incomodado antes. Incomodou-se por ter ficado tanto tempo acomodado.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quando uma vida vale mais que dois mil porcos



Uma grande manada de porcos estava pastando numa colina próxima. Os demônios imploraram a Jesus: "Manda-nos para os porcos, para que entremos neles". Ele lhes deu permissão, e os espíritos imundos saíram e entraram nos porcos. A manada de cerca de dois mil porcos atirou-se precipício abaixo, em direção ao mar, e nele se afogou. Os que cuidavam dos porcos fugiram e contaram esses fatos na cidade e nos campos, e o povo foi ver o que havia acontecido. Quando se aproximaram de Jesus, viram ali o homem que fora possesso da legião de demônios, assentado, vestido e em perfeito juízo; e ficaram com medo.Os que o tinham visto contaram ao povo o que acontecera ao endemoninhado, e falaram também sobre os porcos.
Então o povo começou a suplicar a Jesus que saísse do território deles. Marcos 5:11-17


Uma das características de Cristo que mais me chamam atenção é o modo como Ele quebrava paradigmas, como Ele jogava para o alto os valores, conceitos e idéias da sociedade daquela época e instituía valores e condutas até então totalmente inaceitáveis e inimagináveis.

Sim, Cristo, antes de ser crucificado, crucificou paradigmas: deixava-se ungir por prostitutas, tocava leprosos, falava com mulheres samaritanas, dava atenção às crianças quando elas eram vistas como estorvo, jantava com publicanos e pecadores. Cristo, com o seu modo de agir, implodiu preconceitos e erigiu conceitos. Ensinou a amar os inimigos quando amar apenas os amigos era o convencional; ensinou a oferecer a outra face em vez de revidar uma agressão; ensinou que servir vale mais do que ordenar...

Não posso deixar de falar da fatídica passsagem do homem possesso por espíritos imundos e a manada de porcos. Por algum tempo fiquei pensando sem entender o real motivo pelo qual Jesus permitira que os demônios entrassem nos porcos. Ele poderia ter expulsado os demônios e mandado-os para longe dali. Mas com o consentimento de Cristo, os demônios foram para os porcos, que imediatamente precipitaram-se no abismo.

A passagem mostra que os porqueiros fugiram, e logo voltaram com mais pessoas. Talvez queriam linchar aquele homem que acabara de arruinar o meio pelo qual tiravam seu sustento (ainda que não se alimentassem dos porcos, os porcos possuíam valor e eram considerados como bens, caso contrário aqueles homens não se dedicariam a cuidar daquela manada). Acabaram por apenas expulsar Jesus dali.

Mais uma vez Cristo estava tratando de desconstruir valores e idéias: a libertação daquele homem que há tempos sofria com aquela situação importava mais do que os lucros, do que os bens materiais daqueles porqueiros. Em uma sociedade na qual muitas vezes as coisas são mais valorizadas que as pessoas, que o TER vale mais que o SER, Cristo estava mostrando que o SER vale mais que o TER: Cristo demonstrava ali que uma vida vale mais que dois mil porcos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quando o amor esfria






Isso não é problema meu. Isso é problema do Estado, do governo, dos políticos. Já pago meus impostos, até dou dízimo para a igreja realizar trabalho social. Faço minha parte. Não tenho nada a ver com isso.

Que culpa tenho eu se tem gente passando fome, necessidade? Tem gente sem teto para morar, eu sei. Tem gente que não tem roupa para vestir. Mas eu já fiz minha parte. Aliás, o que eu posso fazer? Não sou ONG, não sou político. Está escrito bolsa-família na minha testa?

Aliás, eu até oro por essas pessoas. Está aí minha contribuição. Olha, eu sei que na igreja primitiva as pessoas repartiam seus bens, de modo a minimizar a necessidade dos desprovidos. Mas aquela época era diferente, né? São épocas diferentes.

Eu também sei que Jesus, antes de qualquer coisa, procurava satisfazer as necessidades das pessoas com as quais encontrava. Transformou água em vinho, alimentou multidões, curou enfermos. Mas Jesus é Jesus, né? Quem sou eu para transformar a vida dos que me cercam? Cristo fazia isso porque ele é Deus. Eu jamais conseguirei fazer a vida de alguém um pouco melhor, como Jesus sempre fazia.

O que eu estou querendo dizer é que eu não posso fazer nada, você não entende? Agostinho disse: “Aquele que sente fome precisa ser alimentado, e não ensinado”. Até parece. É por isso que tem tanto vagabundo aí vivendo de favor, sem correr atrás do pão de cada dia, esperando que caia maná do céu, ou que o bolsa família pingue na sua conta-salário.

Caminhando pelas ruas, vejo pessoas enroladas em trapos descansando debaixo de marquises. Eu acabei me acostumando com isso. Vejo isso todo dia, Isso é normal, né? Toda vez que saio de casa vejo isso. Isso faz parte do mundo. Não era para ser assim, mas infelizmente é. Culpa de Adão e Eva! Aliás, já diria o Apóstolo Paulo: “Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, nós somos os mais infelizes de todos os homens”. Essa vida é cruel, é má mesmo. Não posso fazer muita coisa por essas pessoas aqui. Resta-me torcer para que eles encontrem a Cristo e tenham esperança de uma vida eterna.

Você me pergunta se sou cristão? Claro que sou, como eu disse até dízimo eu dou! Dou oferta, vou à igreja todo domingo! Tenho até um "peixinho" colado atrás do meu carro! Sou uma pessoa muito boa: até dei umas roupas velhas, rasgadas e que não prestavam mais pra uso à um pedinte que tocou a campainha lá de casa.

Me sinto confortável, pois eu tenho feito aquilo que dá para eu fazer. Não posso fazer mais nada! C.S. Lewis estava delirando quando disse “se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo”. Pois eu aconselho a todos o cristianismo: Deus me deu carro do ano, me deu um sítio, os meus celeiros estão fartos, minha vida vai muito bem, obrigado. Aliás, obrigado Jesus. Obrigado por fazer da MINHA vida muito melhor.


“E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.”- palavras de Jesus, em Mateus 24:12


INIQUIDADE = GRAVE INJUSTIÇA : leio como desigualdade

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Teu problema é o meu problema


Romanos 15: 1-3
Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos.
Cada um de nós deve agradar ao seu próximo para o bem dele, a fim de edificá-lo.
Pois também Cristo não agradou a si próprio, mas, como está escrito: "Os insultos daqueles que te insultam caíram sobre mim".


Se tem algo na Bíblia que é bastante claro, é em relação ao zelo com as outras pessoas e o cuidado com o próximo. Devemos amar o próximo como a nós mesmos. E isso inclui assumir responsabilidades ou problemas que não seriam nossos se não fossemos cristãos.
Esses dias fiquei embasbacado com a frieza de certas pessoas ao tratarem sobre a fraqueza alheia. Conversávamos sobre alguém cuja fraqueza era a sensualidade feminina. Surpreendentemente (ou não), alguém se levantou e disse: "Me desculpa, mas isso aí é problema dele, a culpa é só dele, nós mulheres nada temos a ver com isso".

De fato, o problema talvez não esteja nas roupas que as mulheres têm usado, e sim na dificuldade desse irmão em lidar com isso. MAS ISSO NÃO EXCLUI, DE FORMA NENHUMA, O DEVER DO CRISTÃO EM CONTRIBUIR PARA QUE O IRMÃO SUPERE ESSA FRAQUEZA.

Se você é cristão, você tem a ver com isso sim, sendo mulher ou homem, vestindo-se de forma comportada ou não. Suportar a fraqueza dos outros é necessário. Aliás, as vezes não apenas suportar, mas tomá-las como sendo nossas.

Não estou dizendo aqui nesse caso relatado que a solução seria as mulheres andarem cobertas, de saião ou como as muçulmanas. Já disse que o problema não está nas roupas. O problema todo está em dizer "esse problema não é meu" e ainda escarnecer da situação.
O problema nesse episódio, para mim, foi a falta de amor e compaixão dessa mulher em relação à fraqueza de alguém. Se não iria ajudar em nada, deveria ficar calada. Deveria, NO MÍNIMO, suportar.

"Os insultos daqueles que te insultam caíram sobre mim". Interpreto como "O TEU PROBLEMA É O MEU PROBLEMA". Nem que seja só para entender que o que não é problema para mim, pode ser para alguém. Nem que seja para ao menos, suportar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Força na fraqueza????

II CORINTIOS 12: 9-10
"E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade pois me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco, então sou forte."


Nosso Deus é tão tremendo que derruba conceitos humanos, Deus é tão surpreendente que desmantela idéias e valores humanos e institui a verdadeira sabedoria, que vem dEle: para uma pessoa carnal, as adversidades e os momentos não tão bons significam fraqueza, desespero, angústia, dias sem prazer. Mas para a pessoa que enxerga as situações com olhos espirituais, que se importa com as coisas que vêm de cima, os momentos ruins e atribulados são verdadeiramente aqueles momentos em que mais somos fortalecidos.

Partindo então da premissa de que ninguém nasce forte, e se é nas tribulações que somos fortalecidos, logo, necessário é que passemos por esses momentos, para que possamos crescer e nos fortalecer. Uma semente, para crescer, tem que enfrentar a terra e rompê-la. Após despontar da terra, tem que enfrentar as intempéries do dia-a-dia. Chuva, sol, vento, sol, vento, chuva, vento, chuva, sol... Mas isso é necessário para que ela cresça e dê seus frutos no futuro.


Que ao passar pelos momentos dificeis da vida, possamos nos lembrar que eles irão passar, e que quando sairmos deles, sairemos fortalecidos.
E que possamos nos lembrar com esperança e alegria de que haverá um dia para tocar as marcas que nos resgataram de uma vida miserável e de vergonha. Haverá um dia em que não haverá mais lágrima, dor e medo. Haverá um dia no qual veremos Jesus face a face, o mesmo Jesus que acalmou a tempestade quando dormia em um barco, o mesmo Jesus que nos ajuda a vencer as nossas várias tempestades nessa vida terrena e que nos fortalece em cada uma delas.